Quais são os caminhos possíveis dentro de uma gestora ou casa de Venture Capital?

Emerging VC Fellows
9 min readMar 18, 2021

A indústria de venture capital no Brasil é muito nova se comparada a outras posicionadas em mercados já mais amadurecidos. No Brasil ainda estamos nos primeiros ciclos, enquanto que os Estados Unidos, por exemplo, já estão em ciclos mais avançados, em que seus integrantes vivem a jornada como empreendedores, em uma perspectiva de captação de investimentos, e depois vivem a jornada já do outro lado da mesa, como investidores, após seus exits e experiências acumuladas.

Acreditamos que o ganho de maturidade da indústria de VC no Brasil está aumentando nos últimos anos, por conta do aumento do número de interações entre os fundos, gestoras, empreendedores e outros atores do ecossistema e também por conta de fatores macroeconômicos. Porém, constatamos que o maior volume de trocas estavam concentradas entre os partners das casas de VC. Olhando para esse cenário, surge o Emerging VC Fellows, uma comunidade de todos associates, analistas, estagiários e demais non-partners da indústria de Venture Capital, que tem como manifesto o amadurecimento dessa camada da indústria, visando, melhorias para a sociedade por meio do aumento das relações e interações que são criadas nesse ambiente, dado que dispomos das ferramentas, conexões, know-how e, principalmente, do interesse genuíno de transformar o setor.

Neste paper, temos por objetivo apoiar a jornada de quem está, ou pretende estar em breve, como estagiário, analista ou associate de VC e tem a ambição de crescer, se aprofundar e amadurecer em alguma casa de VC, seja ela uma gestora, aceleradora, CVC. A ideia é deixar mais claro quais são os papéis e responsabilidades das posições dentro de uma gestora.

Convidamos a todos a conhecer um pouco mais dessa indústria e ficamos felizes em poder dividir quais são os desafios que encontramos nessa jornada.

Normalmente, em uma gestora de VC, existem algumas posições que são semelhantes, tanto no Brasil quanto no exterior. Segundo o Venture Deals, curso que indicamos no Emerging VCs Recomenda, as posições mais comuns nas firmas de VC são:

  • Managing Director (MD) ou General Partner (GP) — São as pessoas mais seniores e experientes na gestora, tomam a decisão final e, geralmente, sentam nos conselhos (boards).
  • Partners — muitas vezes estão envolvidos em aspectos específicos do processo de investimento como fonte de negócios, apoio nos deals e ajudam as empresas em uma variedade de dimensões, incluindo recrutamento, operações, tecnologia, vendas e marketing, mas não são, necessariamente, os tomadores de decisão no processo de investimento. Normalmente, são os talentos que começaram na gestora há algum tempo e foram promovidos como novos sócios ou então já foram convidados à gestora já com essa posição.
  • Principals ou Directors — Geralmente costumam vir logo depois dos Partners e são grande apoio aos MDs ou GPs para direcionar um deal, mas não costumam ter a decisão final, dependendo dos seus gestores diretos para decidir.
  • Associates — Eles têm uma responsabilidade primordial para a gestora, fazem o scouting de novos deals, apoiam na Due Diligence dos deals existentes, trabalham nas análises dos setores em prospecção e apoiam, principalmente, no cap table. Eles têm uma função primordial nas interações com as investidas ou possíveis investidas.
  • Analistas — Costumam ser recém graduados, normalmente os mais juniores dentro da firma de VC. Em várias gestoras, eles têm papel semelhante ao do associate, porém, ainda, com menos experiência e exercem papel mais voltados ao dia-a-dia da gestora. Em algumas, eles costumam ter um pouco menos de influência e responsabilidade no deal do que um associate e servem como apoio geral para a firma.
  • Estagiários — São vistos como grandes talentos para a gestora, costumam acompanhar os deals, apoiar nas estruturações dos reports, nas análises dos setores e nos contatos com os empreendedores.

Vale reforçar, mais uma vez, que essas posições podem variar de gestora para gestora.

Em grandes gestoras é comum ter uma grande quantidade de diretores, partners, associates e analistas. Já em gestoras com menos AUM (assets under management), é comum ter equipes mais enxutas, cenário esse mais comum aqui no Brasil.

“Na minha visão, ainda temos muito o que aprender como indústria no Brasil e a própria indústria também tem muito o que aprender com o Brasil. Não acredito que devemos copiar tudo o que vem de fora. Estamos experimentando o que a indústria tem a nos oferecer e aprimorando para o que enxergamos de melhor.

No meu caso, sou sócio recente da Cotidiano Aceleradora, uma das principais aceleradoras de startups do Brasil, sediada em Brasília, e não percorri o caminho de estagiário, analista, associate… para depois virar partner. Como outras casas de VC no Brasil, nós não temos este tipo de estrutura padrão. No meu caso, o que aconteceu foi que ao entrar na Cotidiano, há cerca de dois anos, minha função era construir o nosso HUB, fazer a conexão dos principais players do ecossistema de inovação e VC e, logo depois, virei head dessa operação.

Em seguida, fui trabalhar na parte de inovação aberta, apoiando as corporações a inovarem em um formato “startup de ser”, buscando experimentação, descoberta e tração de suas iniciativas. E como é muito comum na indústria de VC, os colaboradores com melhor desempenho e maior potencial foram convidados para a sociedade, como uma estratégia de retenção de talentos.” — Vitor Duarte, partner da Cotidiano Aceleradora de Startups

Trouxemos, também, outro recém-partner de uma gestora nova no Brasil, posicionada em late stage, o Alfredo Hahn da Capsur.

“Comecei minha carreira nos EUA. Formei-me em direito e na época da faculdade abri um fundo de arbitragem de cripto que acabou não fazendo sentido pelo término da janela de discrepância de preços. Com isso, tive vontade de trabalhar em banco e, após dois anos trabalhando em fundraising em uma startup de tecnologia, larguei o trabalho para fazer um mestrado em finanças e em seguida retornei ao Brasil.

Foi aí que conheci pessoas que estavam participando de grandes movimentos na área de fintech e pude trabalhar com M&A em uma boutique. Nessas conversas, fui convidado a trabalhar como analista em um fundo, com colegas que conheci nos EUA, e que estavam abrindo no Brasil. Neste fundo, pude fazer deals importantes e depois de um rápido crescimento fui chamado para ser sócio.

Na minha visão, para trabalhar em VC tem que ser muito bom em sourcing (relacionamento), tem que ter jogo de cintura nos negócios, ser resiliente em situações de muito estresse para lidar com investidores e negociações. Para se destacar, penso que é preciso ser persistente e resiliente, principalmente quando vê algo dando errado e tem que manter a posição em suas ações. Outras questões de relevância que destaco são o domínio do inglês, hábito de leitura e de estudos, principalmente em relação a novas tecnologias.

Do ponto de vista de responsabilidade, acredito que não mudou muita coisa depois que me tornei partner, pois o time é muito enxuto, com 7 pessoas, e os desafios já eram muito grandes desde o dia em que entrei, portanto a responsabilidade sempre foi muito alta.” — Alfredo Hahn

Leonardo Savoy, que foi partner e analista sênior da MAR ventures e hoje atua como associate na Rise Capital, uma gestora americana focada em Series A e B, destaca:

“Contando um pouco da minha trajetória, a entrada não foi nada fácil… por isso simpatizo muito com as pessoas que estão querendo entrar na indústria de VC. Eu vim de uma faculdade, em que a maioria das pessoas não a faz pensando em mercado, ou as que fazem, são mais interessadas em private banking ou corporate banking. Dessa forma, todos os ensinamentos eram mais para esses setores e não exploravam tanto o viés de mercado.

Quando comecei a me interessar por Venture Capital e Private Equity, já estava no último ano da faculdade, o que dificultava ainda mais a entrada nesse mercado. Cogitei até estender a graduação para facilitar na busca do estágio, mas não foi necessário. Como é um mercado bem técnico, fiz alguns cursos para me destacar (inclusive, para quem quer melhorar seu conhecimento em valuation, recomendo fortemente o de Advanced Valuation de NYU Stern, ministrado pelo Damodaran), o que acredito que ajudou. Mas o que mais fez diferença para conseguir entrar e durante os primeiros meses, foi sempre buscar criar relacionamentos com pessoas da indústria de VC e estar constantemente estudando as novidades e tendências em startups e VC. Eu era aquele que mantinha todo mundo informado sobre o que estava acontecendo no mercado, tanto nas rodas de conversa quanto em grupos da área. Enviava notícias, pesquisas e também dava minhas opiniões… Percebo que, normalmente, muita gente fica retraído no meio de muita gente sênior e não quer dar opinião com medo de errar, enquanto eu sempre busquei ter autoconfiança e me posicionar com a postura de querer escutar as pessoas, mas querer ser escutado também. Isso funcionou super bem! Eu tive que ralar muito desde o começo, e tive muita sorte de ter dois gestores que foram essenciais para meu desenvolvimento, pois ainda não sabia muito, estava em uma fase de aprendizado surreal. Mas como costumo dizer: hard work pays off”.

Outro aspecto interessante que também vivi, foi passar um tempo em uma das investidas da MAR ventures. Era como uma célula de M&A e RI dentro da empresa, fazendo o fundraising ativamente, por exemplo. Considero que é legal explorar caminhos alternativos, pois a maioria das pessoas seguem o caminho tradicional e não buscam sair de dentro da área de investimentos do fundo, quando na verdade, uma das experiências mais ricas foi quando eu estive dentro do dia-a-dia da startup. Isso me fez começar a pensar de outra forma e hoje, do outro lado da mesa, tocando os Investimentos da Rise Capital aqui no Brasil, vejo que me trouxe skills valiosas e criou um ponto forte de diferenciação.” — Leonardo Savoy

“O interessante da indústria de VC é que trabalhamos com múltiplos e variados negócios, sob diferentes óticas”, como diz Rafael Fialho, que começou sua carreira em consultoria estratégica na Accenture, depois foi empreender e só depois entrou para o mercado financeiro.

“Como empreendedor, aprendi muito sobre como trabalhar em equipe, como trazer bons sócios, entender mais a dinâmica de investimentos e finanças corporativas. Já no mercado financeiro, trabalhei com planejamento financeiro, gestão de portfólio, conheci melhor sobre o sistema financeiro e foi aí que me deparei com Private Equity e Venture Capital, podendo entender todo o ciclo, toda parte de seleção de bons investimentos, o acompanhamento e a saída.

Para entrar nesta indústria, resolvi me profissionalizar, pois não é nada fácil. Fiz meu mestrado profissional em Barcelona em Entrepreneurial Financing: Venture Capital and Private Equity e, no final do mestrado, pude trabalhar numa consultoria de inovação aberta, na Opinno em Barcelona, onde tive a primeira oportunidade de executar iniciativas de inovação para grandes empresas, desde executar um Hackathon até um M&A. Além disso, vi de perto os benefícios da interação entre corporações e startups, como atacar e entender qual é o melhor tipo de relações entre elas na prática.

Na minha volta para o Brasil, fui trabalhar na Play, onde tínhamos uma pegada de Studio. Lá desenvolvemos venture builders e programas de aceleração para grandes corporações, como Nestlé, Visa, Mercado Bitcoin, entre outras. A partir daí, engajei na oportunidade de entrar na área de Venture Capital mesmo e, assim, no final do ano passado, recebi a proposta de entrar na Plug and Play para poder trabalhar como analista no time do Brasil, com foco no mercado LATAM nas verticais em Ag/FoodTech, Fintech, indústria 4.0 e sustentabilidade.” — Rafael Fialho

A indústria de VC, em última análise, é uma indústria de pessoas. Nos orgulhamos, enquanto Emerging VC Fellows, de, em menos de um ano de comunidade, já sermos mais de 200 Fellows de diversas casas e localidades do país. Como disse Francisco Perez do Alfa Collab, no início deste ano, certamente os integrantes do Emerging VC Fellows de hoje serão os partners e gestores do futuro.

Tal visão é corroborada por dados também. Em uma pesquisa de Censo, recentemente realizada de maneira interna dentro do EVCF, vimos que 63,8% dos Fellows tem a expectativa de se tornar sócio de um fundo/aceleradora/hub de inovação no futuro, sendo que 38,5% enxerga essa possibilidade nos próximos 3 anos e 25,3% nos próximos 5 anos.

Acreditamos no potencial da rede, nas trocas, no alcance e impacto que podemos atingir como comunidade para todos os setores do mercado, com o objetivo de criar e encontrar soluções que possam ser implementadas e escaladas na sociedade de forma sustentável.

Caso se identifique com essa missão ou queira acompanhar as próximas novidades do fellowship, convidamos a entrar em contato conosco pelo nosso site e nos seguir no linkedin e no instagram.

No próximo artigo, trarei um pouco mais dos bastidores de como é o dia-a-dia, na prática, dos fellows em suas respectivas gestoras!

Post escrito por Vitor Duarte, com contribuições de Alfredo Hahn, Leonardo Savoy e Rafael Fialho. Revisão por Luiz Fernando Silva Néto e Gabriel Santos

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Emerging VC Fellows

Um fellowship de associates, analistas, estagiários e demais non-partners da indústria de Venture Capital.